sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cubanos em Miami

Depois de seis meses a viver em Miami continuo a surpreender-me com o significado de ser cubano nesta cidade. Saudades, uma palavra portuguesa que não tem uma equivalente em espanhol, mas  é a mais certeira na hora de descrever esta cidade. Aqui as ruas tem os nomes dos heróis cubanos e das avenidas mais importantes da Havana, os cafés da cidade tem os nomes das províncias cubanas, o nosso herói nacional José Martí tem aqui, em Miami Dade, uma praza com o seu nome, ruas com o seu nome, etc. Todas as tradições cubanas aqui se mantêm intactas, são seguidas ao pé da letra.
Em Miami residem pessoas de todas as nacionalidades. Lembro-me na semana passada quando estava na sauna do gym, juntamente com outras seis chicas, e todas tinha-mos diferentes nacionalidades, brasileira, dominicana, nicaraguense, venezuelana e até uma espanhola, mas cubana é uma nacionalidade especial e não sou eu que o digo, é assim. O cubano é o único que tem direito a residência automática assim que entra nos EUA, nenhum outro país tem, tem direito a 5 anos de estudos grátis a qualquer nível académico, ajuda monetária, ajudas em alimentos pelo tempo que estiver sem trabalhar, um seguro medico que aproveita aos menores até a maioria de idade e aos adultos pelo menos seis meses depois da entrada no país, em fim, melhor do que nos tratam em casa.
Talvez consequência dos benefícios a que temos direito, talvez porque é assim a nossa natureza, o cubano esta presente em todos os altos cargos da cidade, o alcaide da cidade é cubano, os policias são cubanos, os agentes da aduana são cubanos, os bombeiros, etc. Nos estamos longes de ser a maioria, há muito mais mexicanos, venezuelanos, colombianos e outros, mas os cubanos construíram esta cidade; quando aqui chegaram nos anos ´80 Miami era um pântano com um Downtown, e hoje é, das cidades mais importantes do país.
Saudades..., até sento vergonha quando escuto algum cubano a falar de Cuba, vergonha porque eles morrem de saudades, eles desejam regressar, juntam todo o ano dinheiro para poder ir ao menos uma semana de ferias, passam a vida comprando roupas e sapatos para enviar aos seus assim
que possível, gastam fortunas falando ao telefono com Cuba e eu não sinto nada disso, já não me sinto assim tão cubana.
Tentando atravessar o estreito da Florida morreram perto de dez mil cubanos, as suas famílias tem aqui um sementeiro para eles, tem os crucifixos, os seus nomes nas lápidas e os visitam para levar-lhes flores, mas eles não estão lá, eles  perderam-se no mar. Essa é a parte triste da historia, há muito rancor aqui, contra aqueles que nos obrigaram a imigrar, pelos seres queridos que saíram mas que nunca chegaram, por aqueles que tivemos que deixar lá e que mal podemos visitar, por haver-nos obrigado a crescer antes de tempo, em fim, por uma montanha de coisas.
Teria um mundo de coisas que vos contar mas não posso, apenas quero dar-vos uma pequena ideia do mundo onde agora vivo. Acostumada que estava a ser a exótica do grupo, pois onde já se viu uma cubana em Portugal!, agora tento adaptar-me a este novo “estatuto” social.
Saudades do meu Portugal!

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