terça-feira, 4 de outubro de 2011

O curso o dinheiro e o mercado de trabalho

Este post vai dedicado aos meus colegas  portugueses que, por nunca se terem aventurado a estudar ou trabalhar por este mundo fora não (re)conhecem os benefícios de uma educação quase gratuita como a que existe em Portugal.

Como todos sabem eu fiz a  minha licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, uma universidade pública, mas nem por isso, uma universidade sem prestigio, antes pelo contrario, muito bem situada no ranking nacional. A faculdade tem um custo moderado de aproximadamente  1000€ por ANO. O que faz o curso de direito rondar os 4000€ (estes números apenas dizem respeito a fees) a este monto temos sempre que somar os livros, as refeições e até o custo de oportunidade que resulta ser estudante quando podíamos já estar a 100% no mercado de trabalho. Nada é impossível, eu fiz o curso trabalhando a full time e não sou nenhuma heroína, muitos dos meus colegas estavam na mesma situação e levamos a carreira avante. A barreira do idioma também me perseguia, direito é por natureza exigente na linguagem que requer, mas nada que o Word não ajude a solucionar  e também a rotina do dia a dia que te obriga a aprender.   

Segundo tenho entendido uma Pós-graduação, em Portugal, (ex. em direito do trabalho) ronda os 2600€ e o mestrado custa ao mestrando 2000€. Ora um licenciado ou um mester, será sempre um licenciado ou um mester, com toda a grandeza que tais títulos aportam a um curriculum vitae, no importa donde haja estudado porque a universidade mais que um destino final é uma prova de obstáculos que depois de feita te da um background que, na minha opinião deveria ser lida assim pelos empregadores: “ esta pessoa dedicou 4 anos da sua vida a estudar sob questões que provavelmente nunca mais vai a ouvir falar, a responder perguntas que nem os seus entrevistadores entendiam, leio tantos livros cheios de teorias obsoletas que, neste momento,  a sua mente está aberta e pronta para aprender verdadeiramente sob a profissão”. Sobre o exposto anteriormente apenas me resta concluir que vale a pena estudar e aproveitar o quase bónus que um estado do tipo social proporciona em termos educacionais.  

No caso de Portugal o que desincentiva é principalmente o mercado de trabalho que não absorve eficientemente aos profissionais que estão do lado da oferta. Estou longe de ser uma esperta na matéria, apenas expresso-me com base na minha experiência e no sentimento de insegurança dos que me rodearam no tempo que ali vivi. “fazer uma licenciatura para vender pizza, prefiro ficar quieto” incontável foram as vezes que escute esta frase, mas que a mim nunca me confundiu  porque, no estudar, nunca foi opção. Más é verdade que é um mercado muito pequeno, quase tão pequeno como a visão e  pouca abertura da maioria dos empresários locais. Não vou deter-me neste ponto por muito, apenas vou dizer ao respeito que, hoje vivendo numa das cidades mais multiculturais do mundo me dou conta como é desaproveitada em Portugal a riqueza da diferença.  Se criam muros como “estes brasileiros”  ou “esta gente de Europa do Este” que confortam à uma maioria nacional que está dormida no tempo. A legislação laboral, outro monstro, que trava a dinâmica natural do mercado e prejudica os recém-licenciados, a rigidez e o corporativismo obsoleto das ordens, com destaque para a ordem dos advogados. 

Voltando então aos estudos, na semana passada dei uma olhada as hipóteses que tenho de prosseguir os meus estudos na área de direito aqui nos EUA  . O primeiro é o inglês, é evidente que tenho de ter um bom inglês e disso vou tratar já de seguida.  Aqui, a carreira de direito, (assim como a de medicina) é feita de maneira diferente, os aspirantes as universidades de direito tem que ter um bacharel numa outra qualquer especialidade, ou seja, uma licenciatura em economia, filosofia, artes, história, no importa em qual, mas tem de ser terminada para o aluno candidatar-se à  law school.  Esta diferença é notável já que a formação de um Juris Doctor  JD(este é o título de um lic. em direito nos US e no Canada) aqui é de aproximadamente oito anos e a nossa é feita em quatro. Contudo, eles tem uma maestria própria para os lic. em Direito que hajam cursado a sua lic. no estrangeiro é um LL.M

Um LL.M (latin legum magister) é um mestrado que tem como duração um ano e que permite a  “Admission to the bar in the United State” (tipo ordens dos advogados) mas apenas em 15 estados nos quais não se inclui o Florida Bar. Com apenas um ano de estudos e se passo o exame do Bar, posso exercer Direito Federal em qualquer Estado e Direito Estatal em 15 estados.  Esta opção é interessante principalmente por ser "uma via rápida" mas custa 38600$ sem incluir livros nem quaisquer material de estudo.  Outra opção é uma escola pública que é o mais barato que existe na Florida e que tem um custo módico de 16000$ por ano para realizar um JD que no meu caso levaria dois anos e meio aproximadamente a ser concluído. Esta opção não tem restrições na hora de apresentar-se ao exame do Bar nem a hora de exercer em quaisquer estado.  Evidentemente que a entrada a esta Universidade pública é dificultada por três exames de admissão e é necessário provar que és residente da florida há pelo menos um ano. 

Imagino que agora entendam porque dou tanto valor à formação académica patrocinada pelo Governo. Seja como for, não fiquem assustados como eu fiquei, o governo de US empresta o dinheiro para tal, até concede prestamos para que possas viver sem trabalhar o tempo que estas a estudar a uma taxa de aproximadamente 4%.  Aqui se vive assim, com números muito grandes que deixam a qualquer pessoa “normal” com os cabelos em pé, mas no final é porque eles apenas estão interessados em ensinar-te a gerir as tuas finanças não vão a exigir-te muito por mês na hora de pagar. Eu acostumo a pensar que este é só um país com uma grande inflação onde se ganha muito mas se paga muito por qualquer coisa e tudo para impressionar ao mundo com os números finais loool. Ainda me lembro quando cheguei a Portugal há dez anos e alguém me pediu cinco mil escudos por um almoço, cinco mil era um número muito grande para mim nessa época e pouco depois passou a ser apenas cinco contos…


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